Monday, April 6, 2009
O papel do Estado na formação social brasileira
G20: Reordenação do sistema financeiro mundial ou sessão de fotos?
Primeira semana de abril, marcada pelas reuniões do G20. Para a grande maioria dos brasileiros trata-se de algo insignificante, já para os antenados na política internacional pode-se dizer que tivemos ali, “talvez”, um grande feito: FINALMENTE os sobrinhos do Tio Patinhas resolveram abrir os olhos. Pelo visto, a crise foi mais que suficiente para que as belas adormecidas se despertassem de seus belos sonhos que, de fato, se resumem em um só: a disparidade e o descompasso entre as instituições e a economia no plano mundial são cada vez mais gritantes.
Quem acompanha os largos passos da mundialização financeira desde meados da década de 90 sabe bem que a falta de uma institucionalização objetiva do sistema internacional acabou por abraçar fortemente os países que, eventualmente, nada tinham a ver com o início da crise mundial. Sendo assim, a reordenação global, dos mercados e instituições financeiras bem como sua regulação tornaram-se pontos imperativos no sistema internacional.
A Rodada de Doha é exemplo fiel da imensa necessidade de uma reordenação comercial, bem como o Protocolo de Kyoto que é a tradução ambientalista de tal reordenação. Não podemos nos esquecer dos tratados de não proliferação de armas atômicas por uma reordenação bélica e do controle de mísseis pela reordenação e reforma do Conselho de Segurança, nas Nações Unidas.
De fato, até a luta pela redução da pobreza e da melhoria da qualidade de vida em âmbito mundial resultou nos Objetivos do Milênio em 2000. É claro que tantas necessidades requerem tempo para serem atendidas, afinal de contas, uma coisa é atuar no plano nacional e outra, completamente diferente, no âmbito internacional.
Se estamos tratando da economia mundial, a mundialização financeira não foge a regra. Na década de 20, o mundo sofreu com os efeitos colaterais da crise de 1929 e, que, acabou resultando em um mundo protecionista e completamente isolacionista; o que explica grande parte das guerras de conquista.
Oxalá todos tivessem a visão de paz que Roosevelt teve ao ceder de forma grotesca aos soviéticos. O “I have a dream” veio à tona uma vez mais. Roosevelt queria a construção das Nações Unidas bem como uma União Soviética inteiramente comprometida com a ordem mundial. Mesmo em meio a Guerra Fria, a ONU não repetiu o fracasso da Liga das Nações na década de 20 e evitou uma nova guerra mundial.
O controle da crise financeira por parte dos Estados nacionais é, de certa forma, impossível o que impele o sistema internacional à busca de seu revigoramento. As instituições de Bretton Woods não foram suficientes para suportar a crise e acabamos vendo o banco central norte-americano bem como seu Tesouro injetando trilhões de dólares a fim de soerguer seu sistema bancário. O que não foi tão diferente da atual crise no que concerne às empresas automobilísticas.
Os resultados não foram grandes em longo prazo, mas foi o suficiente para manter o mercado amortecido diante do temor de novos empréstimos bancários e dos tomadores de dinheiro se esconder. Não sejamos hipócritas, hoje em dia só quer dinheiro quem já está quebrado.
Em meio aos países do G20 temos os dois lados de uma mesma moeda. O primeiro lado, dos precavidos, como os europeus que, ao injetarem capital nos bancos, assumiram o seu controle. O outro é o lado do Tio Sam, em meio à mágica de produzir dinheiro lastreado sob a credibilidade e confiança do governo e de sua economia, gerando liquidez e novos déficits, além de pouco se preocupar com os equilíbrios fiscais.
Enquanto muitos vêm se preocupando com a desvalorização do dólar, ou seja, o aumento da inflação, a grande maioria dos países do G20 tem voltado suas atenções para a deflação. Daí o ponto louvável da reunião do G20, a tão discutida cesta de moedas que serviria como reserva e o necessário aumento do capital do FMI, bem como a utilização dos DES caso seja necessário.
Fato é que reordenar o sistema financeiro mundial significa rearranjar a política internacional, passo que considero ousado e impossível à priori. Entretanto, posições unilaterais como a do ilustríssimo George Bush em invadir países, acabou dando licença aos mais variados mercados para fazer o que quisessem sem dar satisfação ou consultar ninguém. Totalmente diferente de Obama que, através de Hillary Clinton, tem falando na inclusão de Talebans na mesa de negociação. Os europeus foram mais espertos e viram nos países emergentes a melhor forma de aumentar as chances de liderança e regulamentação.
É assim que funciona no sistema internacional; com o aumento da legitimidade, o número de países com tomada de decisão também se emancipa e discutir a realidade mundial torna-se mais coerente. Sabe-se que o ponto de partida para amenizar a crise é a provisão de verba para os países emergentes e/ou pobres. No G20, a proposta foi de um trilhão de dólares, nada se comparado aos quase 50 trilhoes perdidos pelos ativos globais e fora os 2 trilhões de estímulos fiscais a ajuda necessária se acercaria da casa dos quase 6 trilhões de dólares. Desde a perspectiva do G20, espera-se que até 2010 a economia retome seus passos e possa voltar a caminhar a passos largos. Bem, isso se houver o mínimo de reordenamento financeiro e político mundial, porque o tal “fiduciário” nem sei se existe mais.
Ah...vale lembrar que abril é o mês de mentira, hein... só espero que isso não se aplique aos atuais acontecimentos!
Thursday, March 19, 2009
Vida (eterna) e morte (lenta) aos africanos
Bastante intrigante a frase proferida pelo Papa Bento XVI dentro de seu avião, rumo à Camarões. Ainda mais, por se referir a um continente onde o número de soropositivos e doentes terminais sobrepõe a gripe espanhola do início do século XX (20 milhões), perdendo somente para a Peste Negra, na Idade Média (25 milhões). Ou seja, o número de contaminados pela AIDS na África, principalmente na África do Sul é equivalente a um genocídio, um extermínio em massa e silencioso que se dá paulatinamente.
As últimas ações do Papa além de polêmicas tem deixado grande parte da população mundial com a pulga atrás da orelha, principalmente na África, continente onde o cristianismo ainda é bastante débil. Primeiro, tem-se a excomunhão de um bispo que nega a existência do Holocausto e agora, afirma que o preservativo não ajuda a salvar da AIDS, só piora o problema. Uma posição um tanto quanto contraditória, tendo em vista a intensidade em que a doença "extermina" milhares de africanos por dia, bem como os contaminados que, segundo as Nações Unidas, são cerca de 7400 vítimas, também, diariamente.
Países como Brasil, Estados Unidos e grande parte da Europa tem conseguido deter a epidemia e prolongar a vida de milhares de portadores do HIV. Isso se dá através de campanhas de prevenção e novas drogas. Dessa maneira, era de se esperar que parte desses países tais como França, Alemanha e Espanha reagissem negativamente ao comentário do Papa Bento XVI. Tendo este último, em afronta à posição da Igreja Católica, disponibilizado o envio de milhões de preservativos aos países da África subsariana.
A Igreja Católica defende a abstinência e a fidelidade para evitar o contágio com o vírus do AIDS, pensamento que num mundo onde grande parte dos Estados são laicos, pode ser interpretado como "piada" de mal gosto, ou não. Afinal de contas "a mim tudo me é permitido, mas nem tudo me convém". Mas, falando sério, a facilidade em conscientizar disso um povo disseminado por guerras civis, pela miséria e descaso governamental é extremamente difícil, além de ser um trabalho que poucas organizações não governamentais tem se dado ao trabalho de fazer. Como conscientizar crianças e jovens da importância da prevenção se a queda na frequencia escolar é o principal mostrador da extensão dos efeitos estrondosos de uma epidemia. Muitos param de ir à escola para cuidarem dos pais doentes, fora os que estão infectados e nem vivem o suficente para iniciar o ano escolar. É uma realidade cada vez mais comum para os africanos subsaarianos.
Para além dos dogmas religiosos está o direito a vida; direito este que é inviolável e do qual ninguém pode ser privado. Como boa cristã reconheço a importância valores tradicionais da família, mas isso não significa ser conivente com um "holocausto" biológico, silencioso e paulatino. Não se pode, simplesmente, fechar os olhos e crer que dogmas garantem uma vida eterna, nquanto milhões de pessoas são consumidas por um vírus. É preciso deixar de "viver no céu" e colocar os pés no chão. Ou as Nações Unidas bem como as diversas ong's podem lavar suas mãos e deixar os mais de 23 milhões de infectados nas mãos do Vaticano? Bem, talvez seja mais fácil lutar pela vida e ser excomungado por acreditar que cada esforço para tal feito realmente vale a pena.
Esperemos que o Papa se lembre que o direito à vida é um direito fundamental do homem, pois é dele que decorrem todos os outros; além de ser um direito natural, inerent à condição do ser humano. Sendo assim, aos africanos a vida e, por ela, os preservativos.
"What a wonderful world..."
Hoje, o dia não foi tão diferente e as notícias, como sempre, repugnantes. Em menos de 24 horas, três crianças com até 18 meses foram agredidas e estão em estado grave nos hospitais da cidade. A primeira delas, uma bebê de 9 meses foi esfaqueada pela própria mãe enquanto a "boa cristã" lhe dava banho. Segundo a mesma, Deus teria lhe pedido que a criança fosse sacrificada. E eu me pergunto: em nome de quem? em nome de que?
O segundo caso foi tão chocante quanto o primeiro. Trata-se de um pai covarde que, não satisfeito em espancar a mãe da criança, atirou a filha de 18 meses contra a parede por várias vezes e o resultado? A filha está internada no hospital infantil da cidade com traumatismo craniano.
O terceiro e último diz respeito à patroa nervosinha que não conseguia dormir com o choro do bebê da empregada doméstica. Sendo assim, acabou espancando um bebê de 1 ano deixando-lhe marcas que mais pareciam as chagas de Cristo. E mais uma vez me pergunto: qual o limite da covardia? Não precisamos ser bons socialistas para notar que a cada dia torna-se mais evidente a deterioração da tão defendida representação de vida coletiva.
Já não vivemos na época em que todas as explicações e expressões se davam em termos sociais. A inteligibilidade do homem está se tornando jóia rara e ainda são poucos os que vem tomando consciência dessa ruptura.
A quebra de paradigmas está cada vez mais explícita, seja ela vista como construção de novas defesas por parte da população mundial, de críticas ou de movimentos de libertação. Entretanto, a violência tem no tão apregoado "subdesenvolvimento" a sua via de escape; o que não justifica a atrocidade e frequencia em que a violencia infantil se dissemina. Através de um pensamento tão medíocre vale questionar: por acaso a violência não acontece em países desenvolvidos - seja nos Estados Unidos, seja nos países europeus?
Atos como estes são e devem ser vistos como um problema mundial e que requer mobilização e ação por parte de todos os poderes. Afinal de contas, leis e estatutos não são suficientes para barrar mentes insanas ou conscientizar envolvidos e observadores. Entretanto, ainda vivemos de mão atadas sem meios devidos de intervenção e não resta outra saída a não ser o reforço do pessimismo.
É simples assim... 2009 começou de forma trágica para as crianças brasileiras. É assustadora a intensidade em que novas notícias de violência infantil surgem na mídia. Esta, por sua vez, não perde tempo em fazer sensacionalismo na grande maioria dos casos. Mas sempre foi assim... alguém tem que se "ferrar" para que outros lucrem... Karl Marx que o diga, mas essa sociologia básica não vem ao caso, digo, ao tema.
Em vias de conclusão, é isso, minha gente. Enquanto as leis brasileiras forem tão benevolentes, casos como esse vão continuar a acontecer. Não há meios de fazer com que os cidadãos respeitem e temam as leis e, tampouco, que lhes revelem o seu brilhante futuro caso cometam crimes hediondos, ou seja, a existência de uma punição devida e exemplar, sem direito as essas dezenas de recursos que fazem os processos se arrastarem por décadas, deixando impunes os crápulas que acabam curtindo a velhice em plena liberdade.
Deixemos de hipocrisia e, por favor, não me venham com essa porcaria de ressocialização, porque "PhD's" em criminalidade é o que mais temos neste país, e nível superior nunca foi sinônimo de "hiper-socialização". Ou alguém já viu uma maçã podre ser reaproveitada?
Bem, eis o mundo nosso de cada dia... quem quiser, que diga "amém"!